domingo, 27 de novembro de 2016

Silva Alvarenga

Grupo: Jorge Rastelli, Gabriela Xavier e Ana Karolina Ferreira.

Biografia:


Escritor e poeta do arcadismo brasileiro nascido em Vila Rica, capitania de Minas Gerais, que ao lado do perfeccionismo dos versos, transmitiu em sua arte poética um sentimento que o distinguiu dos demais árcades mineiros. Mestiço e pobre, filho bastardo do músico Inácio da Silva Alvarenga, com a ajuda de amigos, aos dezenove anos foi estudar Humanidades no Rio de Janeiro, e depois de dois anos foi para a Portugal iniciar estudos superiores na Universidade de Coimbra (1771). Lá conheceu e fez amizades com intelectuais como Basílio da Gama e Alvarenga Peixoto e acompanhou a intensa atividade intelectual numa época em que o marquês de Pombal efetuava a reforma do ensino, quebrava a tradição escolástica dos jesuítas e combatia a nobreza. Filiou-se à Arcádia Ultramarina, com o nome de Alcindo Palmireno e publicou o poema O desertor (1774).
Concluiu seu curso (1776), publicou O templo de Nepturno (1777), escrito em honra da aclamação de D. Maria I, e regressou ao Rio de Janeiro (1777). Começou a exercer a advocacia no Brasil e abriu um curso de retórica e de poética (1782) e foi nomeado professor régio por Luís de Vasconcelos e Sousa, vice-rei. Sob o governo do Marquês do Lavradio, protetor das ciências e das artes, tornou-se membro da Sociedade Científica do Rio de Janeiro. Ainda patrocinado por Vasconcelos e Sousa, abriu a Sociedade Literária do Rio de Janeiro (1786), que logo transformou-se em clube de idéias democráticas. Acusado de cultuarem as idéias revolucionárias francesas e de subversão contra a Coroa portuguesa, por denúncia do frei Raimundo e do rábula José Bernardo da Silveira Frade, foi preso a mando do Conde de Resende, então vice-rei, que determinou o fechamento da Sociedade Literária do Rio de Janeiro e o encarceramento dos seus sócios.



Permaneceu no cárcere dois anos e oito meses, sujeito a rigorosa e humilhante devassa, confiada ao juiz Antônio Diniz da Cruz e Silva, que já servira na devassa da Inconfidência Mineira. Posto em liberdade (1797) por ordem de d. Maria I, ante a falta de provas concludentes para a sua condenação, publicou a primeira edição de Glaura: Poemas eróticos, na Oficina Nunesiana, Lisboa (1799). Voltou a ensinar e colaborou (1813), juntamente com o seu companheiro da Sociedade Literária do Rio de Janeiro, Mariano José Pereira da Fonseca, futuro marquês de Maricá, em O Patriota (1813-1814). Com a fundação de O Patriota, tornou-se um dos primeiros jornalistas brasileiros. Faleceu em 1° de novembro, no Rio, solteiro, sem deixar descendentes. Outras publicações importantes foram Desertor das Letras (1774 ), A gruta americana (1779) e o poema Às artes (1788) e a segunda edição de Glaura: Poemas eróticos (1801) na Oficina Nunesiana, Lisboa.


Silva Alvarenga é um dos principais poetas árcades brasileiros. Para o crítico José Aderaldo Castello, em sua obra “ressalta-se, em primeiro plano, a atitude de transição assumida pelo poeta entre o espírito servil e bajulador e o espírito independente dos autores da literatura brasileira colonial, em relação aos mandatários e poderosos de Portugal.”


Principais obras:
  • A Gruta Americana
  • A José Basílio da Gama
    Termindo Sipílio


    Num vale estreito o pátrio rio desce,
    De altíssimos rochedos despenhado
    Com ruído, que as feras ensurdece.

    Aqui na vasta gruta sossegado
    O velho pai das ninfas tutelares
    Vi sobre urna musgosa recostado;

    Pedaços d'ouro bruto nos altares
    Nascem por entre as pedras preciosas,
    Que o céu quis derramar nestes lugares.

    Os braços dão as árvores frondosas
    Em curvo anfiteatro onde respiram
    No ardor da sesta as dríades formosas.

    Os faunos petulantes, que deliram
    Chorando o ingrato amor, que os atormenta,
    De tronco em tronco nestes bosques giram.

    Mas que soberbo carro se apresenta!
    Tigres e antas, fortíssima Amazona
    Rege do alto lugar em que se assenta.

    Prostrado aos pés da intrépida matrona,
    Verde, escamoso jacaré se humilha,
    Anfíbio habitador da ardente zona.

    Quem és, do claro céu ínclita filha?
    Vistosas penas de diversas cores
    Vestem e adornam tanta maravilha.

    Nova grinalda os gênios e os amores
    Lhe oferecem e espalham sobre a terra
    Rubins, safiras, pérolas e flores.


  • O Beija-Flor - Rondó VII
    Deixo, ó Glaura, a triste lida
    Submergida em doce calma;
    E a minha alma ao bem se entrega,
    Que lhe nega o teu rigor.

    Neste bosque alegre e rindo
    Sou amante afortunado;
    E desejo ser mudado
    No mais lindo Beija-flor.

    Todo o corpo num instante
    Se atenua, exala e perde:
    É já de oiro, prata e verde
    A brilhante e nova cor.

    Deixo, ó Glaura, a triste lida
    Submergida em doce calma;
    E a minha alma ao bem se entrega,
    Que lhe nega o teu rigor.

    Vejo as penas e a figura,
    Provo as asas, dando giros;
    Acompanham-me os suspiros,
    E a ternura do Pastor.

    E num vôo feliz ave
    Chego intrépido até onde
    Riso e pérolas esconde
    O suave e puro Amor.

    Deixo, ó Glaura, a triste lida
    Submergida em doce calma;
    E a minha alma ao bem se entrega,
    Que lhe nega o teu rigor.

    Toco o néctar precioso,
    Que a mortais não se permite;
    É o insulto sem limite,
    Mas ditoso o meu ardor;

    Já me chamas atrevido,
    Já me prendes no regaço:
    Não me assusta o terno laço,
    É fingido o meu temor.

    Deixo, ó Glaura, a triste lida
    Submergida em doce calma;
    E a minha alma ao bem se entrega,
    Que lhe nega o teu rigor.

    Se disfarças os meus erros,
    E me soltas por piedade,
    Não estimo a liberdade,
    Busco os ferros por favor.

    Não me julgues inocente,
    Nem abrandes meu castigo;
    Que sou bárbaro inimigo,
    Insolente e roubador.

    Deixo, ó Glaura, a triste lida
    Submergida em doce calma;
    E a minha alma ao bem se entrega,
    Que lhe nega o teu rigor.
Analise dos poemas:


Nos poemas dele poderemos encontras diversas referências ao bucólico em trechos como a primeira estrofe toda do poema "A Gruta Americana", como vales, rios, rochedos. 
Vale mencionar que apesar de o período arcade ser associado a "campo" e mitologia,  refere-se a natureza em geral e a mitologia pois o arcadismo vem para se contrapor ao barroco, onde a ideia era a manipulação e a falsificação, teatralização da natureza, dando uma ideia de domínio sobre ela e no arcadismo o próprio sentimento do homem se reflete na natureza, ou seja, não há domínio, nem relação de força, há a mais completa aceitação do natural, ao ponto do mais intimo do homem (seus sentimentos) se refletirem no estado da natureza.
Agora que a analise foi feita, segue-se exemplo de outros momentos em que o bucólico aparece no poema: A menção de ninfas na segunda estrofe é algo muito característico do arcadismo pois além de se remeterem a mitologia, também fazem referencias a entidades campestres. Há no poema Beija-Flor na terceira estrofe, menções de elementos da natureza como a flor, pedras preciosas, céu e já na quarta ele falará do anfiteatro, nas dríades, na quinta a emoção expressa em um ser mitológico, afetando a natureza ao redor. A sexta estrófe até a décima, seguirá esse padrão bem comum do período árcade. Menções a natureza, mitologia e a integração, a ligação do sentimento e da natureza.
Seu segundo poema, "O Beija-Flor - Rondó VII" faz uma espécie de inversão interessante. Ele ainda traz características do árcade porém ao invés do sentimento modificando a natureza ao redor, ou a natureza refletindo os sentimentos do personagem, os próprios sentimentos são descritos como elementos da natureza como por exemplo "Neste bosque alegre e rindo", do mesmo modo como poder ser interpretado como o estado de espírito do personagem no lugar em que ele está, se sujeita também a uma interpretação menos subjetiva e mais direta, onde o próprio bosque sorri. A natureza não representando mas apresentando sentimentos. No Poema beija-flor, aparece a figura do pastor, que é algo muito característico do bucólico também.
O poema "A Gruta Americana", o foco está nos elementos da natureza e na mitologia grega, enquanto que "O Beija-Flor", nos sentimentos remetidos a sua amada.


Crítica:
       
O Arcadismo, também conhecido como Setecentismo ou Neoclacissismo, é o movimento que compreende a produção literária brasileira na segunda metade do século XVIII. O nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por sua vez, foi nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto).
Denota-se, logo de início, as referências à mitologia grega que perpassa o movimento.
Profundas mudanças no contexto histórico mundial caracterizam o período, tais como a ascensão do Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso e as ciências. Na América do Norte, ocorre a Independência dos Estados Unidos, em 1776, abrindo caminho para vários movimentos de independência ao longo de toda a América, como foi o caso do Brasil, que presenciou inúmeras revoluções e inconfidências até a chegada da Família Real em 1808.
O movimento tem características reformistas, pois seu intuito era o de dar novos ares às artes e ao ensino, aos hábitos e atitudes da época. A aristocracia em declínio viu sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organização econômica liderada pelo pensamento burguês.
Ao passo que os textos produzidos no período convencionado de Quinhentismo sofreram influência direta de Portugal e aqueles produzidos durante o Barroco, da cultura espanhola, os do Arcadismo, por sua vez, foram influenciados pela cultura francesa devido aos acontecimentos movidos pela burguesia que sacudiram toda a Europa (e o mundo Ocidental).


Segundo o crítico Alfredo Bosi em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006) houve dois momentos do Arcadismo no Brasil:
a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização da natureza e da mitologia.
b) ideológico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.


Último dos neoclássicos de relêvo, autor de uma Epístolaa Basílio da Gama forrada de preceitos horacianos, Silva Alvarenga já foi considerado, no entanto, "o elo que prende os árcades e os românticos" ( Ronald de Carvallzo ). A expressão trai uma crítica externa, se não superficial: o fato de se incluírem nos rondós nomes de árvores brasileiras, o cajueiro e a mangueira a cuja sombra repousa Glaura, além de não ser traço exclusivo do poeta, pode explicar-se como simples nativismo de paisagem, comum a barrocos e árcades. E o ameninamento das comparações ( com pombos e beija-flôres ) e dos adjetivos ( ternos Amores, tenra flor, púrpura mimosa, mimosa Glaura ) tem um quê de Metastásio dengoso e acariocado que se entende à maravilha quando se evoca o tipo do mestiço culto nos tempos coloniais, não se fazendo mister a etiqueta "romântico" para defini-lo.

Principais características do arcadismo:


- inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, em O Uraguai (gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico);
- influência da filosofia francesa;
- mitologia pagã como elemento estético;
- o bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida simples, bucólica e pastoril;
- tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia;
- pastoralismo: poetas simples e humildes;
- bucolismo: busca pelos valores da natureza;
- nativismo: referências à terra e ao mundo natural;
- tom confessional;
- estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos;
- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.

Termos em latim
O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam associados ao estilo de vida simples e bucólico. Conheça algumas delas:

Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade.
Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio;
Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos centros urbanos monárquicos;
Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a aproveitar o momento presente.

Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios.
 


Bibliografia de Silva Alvarenga:


Sua obra poética constitui-se dos livros O Desertor (1774), O Templo de Netuno (1777), A Gruta Americana (1779), Às Artes (1778) e, o mais famoso, Glaura (1799).

Fontes de pesquisa:

Conteúdo ministrado em sala de aula. 
História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi
http://www.soliteratura.com.br/arcadismo/



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