domingo, 27 de novembro de 2016

Cláudio Manuel da Costa

Por: Andrea, Antônio e Alex


Biografia:


Claudio Manuel da Costa, poeta, historiador, cartógrafo, tradutor, dramaturgo, possível compositor musical e tendo exercido cargos públicos como:  procurador da Coroa Portuguesa, desembargador e secretário de Estado.  Nascido a 5 de junho de 1729, na vila de Ribeirão do Carmo, hoje pertencente a Mariana (MG), o poeta era filho de uma brasileira e de um minerador português.  Tornou-se um dos maiores poetas do arcadismo, valorizava a vida no campo e a natureza.  Homem culto, conhecedor de Camões e Petrarca, deixou uma rica obra literária.
Como a maioria dos filhos da elite brasileira da época, estudou em Coimbra e, foi lá que começou a escrever poemas como:   o Culto métrico a uma abadessa do Mosteiro de Figueiró(1749); o Munúsculo métrico consagrado a d. Francisco da Anunciação, reitor da Universidade de Coimbra (1751); o Epicédio à morte de frei Gaspar da Encarnação, o Labirinto de amor e os Números harmônicos, (todos os três de 1753). Em 1768, foram publicadas várias peças literárias em verso – um pequeno “drama”, sonetos, uma écloga, uma ode – compuseram uma academia de circunstância em homenagem a José Luís de Meneses Abranches Castelo Branco e Noronha, conde de Valadares e governador de Minas. E finalmente, entre 1769 e 1772, dedicou-se a um poema épico que se tornou o mais famoso dele, o Vila Rica, inédito até 1839.   Esse poema, com sua estrutura épico clássica, se assemelha à outro poema do mesmo período, o Uraguay, de Basílio da Gama.  Ambos representantes do movimento conhecido como arcadismo.  Como homem engajado na política pública, elaborou diversas poesias em louvor dos governantes ou dos acontecimentos da época, entre 1775 e 1780. E como últimas prováveis realizações literárias, há suspeitas que entre 1786 e 1788, tenha participado da realização das Cartas chilenas, hoje quase unanimemente atribuídas a Tomás Antonio Gonzaga, apesar de se reconhecer, também quase sem exceção, a autoria da “Epístola a Critilo” como sendo de Cláudio.

Claudio Manuel da Costa destacou-se também, por sua participação na Inconfidência Mineira, fato polêmico e que suscita discussões por parte dos historiadores.  Uns dizem que ele não teria passado de um espectador, enquanto outros sustentam que forneceu as bases teóricas para a conspiração.  Até mesmo sua morte, em 04 de julho de 1879, também está envolta em uma polêmica.  Os documentos oficiais relatam que o poeta enforcou-se na prisão, mas a posição em que foi encontrado e o fato de sua morte ser conveniente à algumas pessoas ligadas ao poder naquela época, em especial o visconde de Barbacena, governador de Minas Gerais, fazem com que estudiosos afirmem que o suicídio não passaria de uma farsa para encobrir seu assassinato.


Principais obras:

  • Vila Rica


Poemas: 


 
Sonetos



XIV

Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos transladado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.
Ali não há fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!

LVII
Que inflexível se mostra, que constante
Se vê este penhasco! já ferido
Do proceloso vento, e já batido
Do mar, que nele quebra a cada instante!
Não vi; nem hei de ver mais semelhante
Retrato dessa ingrata, a que o gemido
Jamais pode fazer, que enternecido
Seu peito atenda às queixas de um amante.
Tal és, ingrata Nise: a rebeldia,
Que vês nesse penhasco, essa dureza
Há de ceder aos golpes algum dia:
Mas que diversa é tua natureza!
Dos contínuos excessos da porfia,
Recobras novo estímulo à fereza.




Como ressalta Laura de Mello e Souza (2010) em seu artigo, os sonetos de Claudio Manuel da Costa são mais claros, uma oposição a influência barroca que perdura em suas obras, o que, no caso do XVI, junto a temática, aproxima o poeta mais ainda do movimento árcade. Percebe-se essa clareza na oposição feita entre vida pastoril e vida citadina.
No soneto XVI a figura do pastor surge como símbolo da inocência e o campo retiro de paz, já a cidade local de mentira e violência – possivelmente decorrente da dissimulação referida. Através deste contraste, Claudio Manuel nos alerta para as relações que começavam a se desenvolver nas cidades. O que o poeta traz em seu poema é a necessidade de escapar do meio falso em que vivia, nos mostrando algo recorrente na poesia árcade, a necessidade de se afastar da vida na cidade e que para Claudio Manuel no soneto XVI apenas parece variável sendo na verdade dissimulação de uma vida que começa a dar mais importância à aparência do que o indivíduo, algo que será, sob novas diretrizes, explorado nos movimentos que seguiram, o Romantismo e o Realismo. Contudo, como nem toda paisagem se pinta de belas cores, se o campo é lugar de refúgio, a natureza que lhe cerca pode não ser; ela serve também de reflexo ou caminho para que o poeta relate circunstâncias da vida que mechem com seu estado emocional, como Claudio Manuel bem retrata ao falar da relação fictícia com esta mulher idealizada em seus versos, Nise.
Não se trata, como faz parecer nos primeiros versos, do vislumbre de uma paisagem sombria, mas da alusão a dureza e altivez do penhasco bem como de sua resistência, que refletem para Claudio Manuel o contraste da mulher que diz amar, pois por quanto duro e talvez gigante, há no vento, nas próprias circunstâncias da natureza – da vida – elementos capazes transformar algo tão inflexível em pó. Assim, Nise aparece para Claudio Manuel a uma distância que o faz vê-la em toda sua altivez, por esta razão ele parece se atrair mais por ela, como nos mostra no último verso, porém, no contínuo processo que se funda pela insistência ele encontra meios de fazer tal altivez ceder. 
           


Crítica:



De acordo com Alfredo Bosi (1975), mais de um fator concorreu para que Cláudio Manuel da Costa fosse o nosso primeiro e mais acabado poeta neo-clássico: a sobriedade do caráter, a sólida cultura humanística, a formação literária portuguesa e italiana e o talento de versejar compuseram em Glauceste Satúrnio o perfil do árcade por excelência.
Cláudio estreou como cultista e, sem dúvida, ecos do Barroco eram os versos que se produziam na Coimbra que ele conheceu adolescente, e da qual partiria para Minas. Era ardente pombalino e certamente foi lateral o seu papel na Inconfidência.
A maior parte das Obras de Cláudio foram compostas ou em Coimbra ou pouco depois. O gosto melhor tem por vigas o motivo bucólico, as cadências do soneto camoniano e alguns em razoável italiano de calque metastasiano. Assumiu, depois, como verdadeiras fórmulas por quase todos os líricos europeus até o advento do Romantismo. Compôs um cancioneiro onde não há apenas uma figura feminina, mas várias pastoras, em geral inacessíveis, constelando uma tênue biografia sentimental, a exemplo no soneto LVII, apresentados acima. Os prados e os rios, os montes e os vales servem de pano de fundo às inquietações amorosas.
Chamou a natureza para assistente e consolo dos próprios males, ou dar-lhe a função de ponto referencial para evocar as venturas passadas; e o uso reiterado de certos epítetos melancólicos ou negativos como “sombra escura, sombra fúnebre, fúnebre arvoredo”, não sendo sinal de pré-romantismo, mas, resultado de uma situação existencial complexa. E,  uma forma de resolvê-la é dar por ideal distante ou perdido o objeto dos cuidados de amor. Toda uma vertente platonizante sulca a poesia clássica. No entanto, já observou Antônio Cândido, "de todos os poetas mineiros talvez seja ele o mais profundamente preso às emoções e valores da terra".                 
Segundo Antonio Candido (2006), Cláudio Manuel da Costa foi um escritor de transição entre o cultismo e as novas tendências, representando de algum modo o início de uma atividade literária regular e de alta qualidade no seu país. Reajustou conforme os seus preceitos a forte vocação barroca, encontrando a solução numa espécie do Neoquinhentismo, pela síntese da simplicidade clássica e certo maneirismo infuso. Nos  sonetos está o melhor do seu estro, como forma e elaboração dos dados humanos.
As formas poéticas inventadas por ele, constituem, apesar da monotonia, melodioso encanto em que perpassam imagens admiravelmente escolhidas para denotar o velho tema da esperança e decepção amorosa, que mostram a capacidade clássica de exprimir os sentimentos em breve suma equilibrada. Na sua obra há um aspecto de erotismo frívolo, expresso principalmente nas poesias de metro curto, anacreônticas em grande parte, celebrando a namorada, depois noiva, sob o nome pastoral. Com admirável simplicidade e nobreza, traça um roteiro das suas preocupações, da sua visão do mundo.

Bibliografia:

          BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1975
        SOUZA, Laura de Mello. " O Antigo e o novo na obra de Claudio Manuel da Costa". Revista de História, ed. especial, 2010, p. 101-114

Links: 

Original Vila Rica - disponibilizado pela Biblioteca nacional



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