domingo, 27 de novembro de 2016

Domingos Caldas Barbosa

Apresentado pelas alunas Alessandra Dias e Thaís Abreu de Araújo

BIOGRAFIA

   Domingos Caldas Barbosa nasceu em 4 de agosto de 1738 (essa é a data afirmada por Camara Cascudo, historiador brasileiro – apesar da dúvida sobre o ano exato), no Rio de Janeiro. Foi o poeta satírico mais reconhecido do Arcadismo brasileiro, tendo seus poemas transformados em “modinhas”, sendo o primeiro a introduzir influências rítmicas que chegavam ao Brasil. Faleceu em 9 de novembro de 1800 no palácio do Conde de Pombeiro, Lisboa.
    Filho de um comerciante português com uma angolana, teria nascido ainda em um navio a caminho do Rio de Janeiro, quando voltavam da colônia africana. Estudou no Colégio dos Jesuítas no antigo Morro do Castelo (como queria o pai), e serviu como soldado na fronteira sul do Brasil em 1760, na Colônia do Sacramento (atualmente parte do Uruguai), dizem que como punição por suas críticas aos portugueses.
    A morte do seu pai Antonio, em 1764, faz com que ele perca sua condição econômica e passe a viver de suas composições. Sendo amado por muitos e também odiado por outros, Domingos vai para Lisboa procurando uma nova vida e, assim, recebe ajuda do Conde do Pombeiro, que o faz virar Capelão da Casa da Suplicação.
     Conhecido por sua viola de arame, Domingos divulgava a modinha brasileira nos salões de Portugal e foi a partir de 1775 que realmente ganhou a atenção por suas sátiras e malícias, principalmente voltadas às mulheres e aos portugueses. Em 1777, Domingos Barbosa é ordenado em formação religiosa na Universidade de Coimbra. Passou a se referir como “O Beneficiado Domingos Barbosa”, após a ajuda de D. Maria I, ganhando um trabalho na área administrativa da Igreja, o que tanto queria.
    Fundou em 1790 a Academia de Belas Artes, em Lisboa (também conhecida como Academia das Humanidades e Nova Arcádia), participando da Arcádia de Roma com o pseudônimo de Lereno Selinuntino. Reconhecido na corte portuguesa e nas ruas, por seus poemas transformados em canções populares, Domingos Barbosa revelava seus dotes de repentista e em 1798 lança sua obra Viola de Lereno, composta por modinhas1 e lundus2.
     Com seus sessenta anos, Domingos faleceu em Lisboa e foi sepultado na Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos.

1-      Canto urbano de salão, de caráter lírico, sentimental;
2-      O lundu (landum, lundum, londu) é dança e canto de origem africana introduzido no Brasil provavelmente por escravos de Angola.

      Com toda sua fama, Domingos foi o responsável por fazer a modinha ser o primeiro gênero popular brasileiro a ser levado para fora do país, conquistando notoriedade na segunda metade do século dezoito, em Lisboa. E por tudo isso, poetas eruditos portugueses, da época, ficavam desesperados. Bocage foi um deles, que escreveu um soneto satirizando Lereno Selinuntino, veja um trecho:

“Um bando de comparsas logo acode
Do fôfo Conde ao novo Talaveiras;
Improvisa berrando o rouco bode;

Aplaudem de contínuo as frioleiras
Belmiro em Ditirambo, o ex-frade em Ode,
Eis aqui do Lereno as quartas-feiras.”

   Começando a onda de modinhas com Lereno, depois vieram muitos poetas musicando seus versos. Casimiro de Abreu, Drummond, Vinícius de Moraes, Chico Buarque, são exemplos.
    Outra curiosidade sobre a vida de Domingos é a polêmica sobre ele ser realmente o compositor dos lundus e modinhas endereçados a ele, quando alguns críticos contemporâneos afirmam que ele não teria conhecimentos para isso e nem caráter musical para suas melodias. Apesar de todas as dúvidas perdidas no tempo, há relatos que nos levam a acreditar no potencial de Domingos, como a afirmação de Bingre em uma de suas cartas da corte:
   “as primeiras sessões em casas particulares; e algumas no palácio do Conde de Pombeiro no quarto do Caldas, chamadas Quartas-feiras de Lereno, onde depois de um belo almoço se tocavam alguns instrumentos de curiosos e improvisava o Caldas cantando” disse Joaquim Bingre, fundador e presidente da Academia de Belas Letras (em carta).
      Não só esse trecho, mas também o soneto de Bocage e tantos outros, nos faz pensar a respeito da imagem de Lereno Selinuntino com sua viola de arame e suas modinhas, ligando o erudito e o popular por onde passava.

POEMAS:

Ora a Deus, Senhora Ulina (Modinha)

“Ora a Deus, Senhora Ulina
Diga-me: como passou?
Conte-me: teve saudades?
Não, não, não, não
Nem de mim mais se lembrou
Cantou alguma modinha?
E que modinha cantou?
Lembrou-lhe alguma das minhas?
Não, não, não, não
Nem de mim mais se lembrou''

Lundum

“Eu tenho uma Nhanhazinha
A melhor que há nesta rua;
Não há dengue como o seu,
Nem chulice como a sua.

Ai céu!
Ela é minha iaiá,
O seu moleque sou eu.

Eu tenho uma Nhanhazinha
Muito guapa muito rica;
O ser fermosa me agrada,
O ser ingrata me pica.

Eu tenho uma Nhanhazinha
De quem sou sempre moleque;
Ela vê-me estar ardendo,
E não me abana c'o leque.

Eu tenho uma Nhanhazinha
Por quem chora o coração;
E tanto chorei por ela,
Que fiquei sendo chorão.”

C: Ao se destinar a “Nhanhazinha”, o poeta se declara a uma sinhá, moça branca da época, referindo-se como “moleque” e assim, relacionando a forma como chamavam os escravos jovens. Com o tema sendo a dor do amor, o eu lírico ainda brinca com a ideia de ser rejeitado pela sinhá. Domingos Barbosa não omite sua origem, usando termos africanos e fazendo ligações com a escravidão no período onde ainda se haviam escravocratas.

“Não tens nas faces
Jasmins de rosa,
Cor mais graciosa
Nas faces tens.
Todas t’a invejam,
E há quem ser queira,
Assim trigueira
Como tu és.”

C: Ao dizer que uma mulher “trigueira”, de pele escura, é invejada por sua beleza, o poeta inverte a ideia de beleza feminina cantada pelos árcades europeus, novamente trazendo sua origem afro-brasileira como forte influência em seus poemas.

OUTRAS OBRAS:

1.       Bárbara Heliodora (lira escrita na prisão). 
2.       Estela e Nize (soneto lírico-amoroso).
- Viola de Lereno (coleção de suas cantigas, Lisboa, 1798).
- A Saloia Namorada, A Vingança da Cigana e A Escola dos Ciosos (libretos de farsa).

PALAVRAS DA CRÍTICA:

"O poeta teve a consagração da popularidade. Não falo dessa que adquiriu em Lisboa, assistindo a festas e improvisando na viola. Refiro-me a uma popularidade mais vasta e mais justa. Quase todas as cantigas de Lereno correm de boca em boca nas classes plebéias truncadas ou ampliadas. Formam um material de que o povo se apoderou, revelando-o a seu sabor." (Silvio Romero)

Domingos Caldas Barbosa
"Perfeitas ou não, essas quadrinhas despretensiosas resistiriam ao tempo e à pancadaria dos eruditos. As cantigas do mulato Caldas Barbosa possuem um embalo preguiçoso e dolente, que vem da sua autêntica inspiração popular, como uma antecipação dos melhores momentos dos nossos modinheiros e letristas de samba, como um Orestes Barbosa, um Sinhô, um Noel Rosa, um Chico Buarque de Holanda.". (Francisco de Assis Barbosa)

“Um mulato que volta seu olhar para sua cor e escreve sobre isso. Não é a toa que Manuel Bandeira cita-o como precursor da poesia brasileira. Ele, um mulato, que foi chamado de orangotango por Bocage e de macaco por outros. Foi ridicularizado e humilhado por ter ousado entrar nos palácios, recitando e cantando o lundum, um ritmo de negros. Os intelectuais da época zombavam dele. Ele era satirizado pelos outros escritores. Tudo isso por assumir sua cor e ascendência.” (CAMARGO, 2000).

“Como tocasse bem viola e cantasse agradavelmente modinhas e lunduns, tornou-se o socio almejado e applaudido das melhores companhias” (Macedo, 1876)

"Dizem que a modinha morreu. Ela não morrerá porque já não é mais uma canção, mas um estado de alma. Ela está na própria essência emotiva da nacionalidade." (Mozart de Araújo)

BIBLIOGRAFIA:

-CD Capela Basílica – Modinhas
-dicionariompb.com.br/lundu/dados-artisticos
-A viola e a música de Domingos Caldas Barbosa: uma investigação bibliográfica; Marcia Taborda; Departamento de Música/UFSJ
-Dicionário Biográfico Caravelas; Núcleo de Estudos da Historia da Música Luso-Brasileira
-BARBOSA, v. 2, 1944, p. 27; Pertencimento étnico e transgressão em Viola de Lereno, de Domingos Caldas Barbosa; Eduarda Rodrigues Costa / LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafro


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