Apresentado pelas alunas Alessandra Dias e Thaís Abreu de Araújo
BIOGRAFIA
Domingos
Caldas Barbosa nasceu em 4 de agosto de 1738 (essa é a data afirmada por Camara
Cascudo, historiador brasileiro – apesar da dúvida sobre o ano exato), no Rio
de Janeiro. Foi o poeta satírico mais reconhecido do Arcadismo brasileiro,
tendo seus poemas transformados em “modinhas”, sendo o primeiro a introduzir
influências rítmicas que chegavam ao Brasil. Faleceu em 9 de novembro de 1800
no palácio do Conde de Pombeiro, Lisboa.
Filho de um comerciante português com uma
angolana, teria nascido ainda em um navio a caminho do Rio de Janeiro, quando
voltavam da colônia africana. Estudou no Colégio dos Jesuítas no antigo Morro
do Castelo (como queria o pai), e serviu como soldado na fronteira sul do
Brasil em 1760, na Colônia do Sacramento (atualmente parte do Uruguai), dizem
que como punição por suas críticas aos portugueses.
A morte do seu pai Antonio, em 1764, faz
com que ele perca sua condição econômica e passe a viver de suas composições.
Sendo amado por muitos e também odiado por outros, Domingos vai para Lisboa
procurando uma nova vida e, assim, recebe ajuda do Conde do Pombeiro, que o faz
virar Capelão da Casa da Suplicação.
Conhecido
por sua viola de arame, Domingos divulgava a modinha brasileira nos salões de
Portugal e foi a partir de 1775 que realmente ganhou a atenção por suas sátiras
e malícias, principalmente voltadas às mulheres e aos portugueses. Em 1777, Domingos
Barbosa é ordenado em formação religiosa na Universidade de Coimbra. Passou a
se referir como “O Beneficiado Domingos Barbosa”, após a ajuda de D. Maria I,
ganhando um trabalho na área administrativa da Igreja, o que tanto queria.
Fundou em 1790 a Academia de Belas Artes,
em Lisboa (também conhecida como Academia das Humanidades e Nova Arcádia),
participando da Arcádia de Roma com o pseudônimo de Lereno Selinuntino. Reconhecido na corte portuguesa e nas ruas, por
seus poemas transformados em canções populares, Domingos Barbosa revelava seus
dotes de repentista e em 1798 lança sua obra Viola de Lereno, composta por modinhas1 e lundus2.
Com seus sessenta anos, Domingos faleceu
em Lisboa e foi sepultado na Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos.
1- Canto
urbano de salão, de caráter lírico, sentimental;
2- O lundu (landum,
lundum, londu) é dança e canto de origem africana introduzido no Brasil
provavelmente por escravos de Angola.
Com toda sua fama, Domingos foi o
responsável por fazer a modinha ser o primeiro gênero popular brasileiro a ser
levado para fora do país, conquistando notoriedade na segunda metade do século
dezoito, em Lisboa. E por tudo isso, poetas eruditos portugueses, da época,
ficavam desesperados. Bocage foi um
deles, que escreveu um soneto satirizando Lereno Selinuntino, veja um trecho:
“Um
bando de comparsas logo acode
Do
fôfo Conde ao novo Talaveiras;
Improvisa
berrando o rouco bode;
Aplaudem
de contínuo as frioleiras
Belmiro
em Ditirambo, o ex-frade em Ode,
Eis aqui do Lereno as quartas-feiras.”
Começando a onda de modinhas com Lereno,
depois vieram muitos poetas musicando seus versos. Casimiro de Abreu, Drummond,
Vinícius de Moraes, Chico Buarque, são exemplos.
Outra curiosidade sobre a vida de
Domingos é a polêmica sobre ele
ser realmente o compositor dos lundus
e modinhas endereçados a ele, quando
alguns críticos contemporâneos afirmam que ele não teria conhecimentos para
isso e nem caráter musical para suas melodias. Apesar de todas as dúvidas
perdidas no tempo, há relatos que nos levam a acreditar no potencial de
Domingos, como a afirmação de Bingre
em uma de suas cartas da corte:
“as primeiras sessões em casas
particulares; e algumas no palácio do Conde de Pombeiro no quarto do Caldas,
chamadas Quartas-feiras de Lereno, onde depois de um belo almoço se
tocavam alguns instrumentos de curiosos e improvisava o Caldas cantando” disse Joaquim Bingre, fundador e
presidente da Academia de Belas Letras (em carta).
Não
só esse trecho, mas também o soneto de Bocage e tantos outros, nos faz pensar a
respeito da imagem de Lereno Selinuntino com sua viola de arame e suas
modinhas, ligando o erudito e o popular por onde passava.
POEMAS:
Ora
a Deus, Senhora Ulina (Modinha)
“Ora
a Deus, Senhora Ulina
Diga-me:
como passou?
Conte-me:
teve saudades?
Não,
não, não, não
Nem
de mim mais se lembrou
Cantou
alguma modinha?
E
que modinha cantou?
Lembrou-lhe
alguma das minhas?
Não,
não, não, não
Nem
de mim mais se lembrou''
Lundum
“Eu tenho uma Nhanhazinha
A melhor que há nesta rua;
Não há dengue como o seu,
Nem chulice como a sua.
Ai céu!
Ela é minha iaiá,
O seu moleque sou eu.
Eu tenho uma Nhanhazinha
Muito guapa muito rica;
O ser fermosa me agrada,
O ser ingrata me pica.
Eu tenho uma Nhanhazinha
De quem sou sempre moleque;
Ela vê-me estar ardendo,
E não me abana c'o leque.
Eu tenho uma Nhanhazinha
Por quem chora o coração;
E tanto chorei por ela,
Que fiquei sendo chorão.”
C: Ao se destinar a
“Nhanhazinha”, o poeta se declara a uma sinhá, moça branca da época,
referindo-se como “moleque” e assim, relacionando a forma como chamavam os
escravos jovens. Com o tema sendo a dor do amor, o eu lírico ainda brinca com a
ideia de ser rejeitado pela sinhá. Domingos Barbosa não omite sua origem,
usando termos africanos e fazendo ligações com a escravidão no período onde
ainda se haviam escravocratas.
“Não tens nas faces
Jasmins de rosa,
Cor mais graciosa
Nas faces tens.
Todas t’a invejam,
E há quem ser queira,
Assim trigueira
Como tu és.”
C: Ao dizer que
uma mulher “trigueira”, de pele escura, é invejada por sua beleza, o poeta
inverte a ideia de beleza feminina cantada pelos árcades europeus, novamente
trazendo sua origem afro-brasileira como forte influência em seus poemas.
OUTRAS
OBRAS:
1.
Bárbara
Heliodora (lira escrita na prisão).
2.
Estela
e Nize (soneto lírico-amoroso).
-
Viola de Lereno (coleção de suas cantigas, Lisboa, 1798).
- A Saloia
Namorada, A Vingança da Cigana e A Escola dos Ciosos (libretos de
farsa).
PALAVRAS
DA CRÍTICA:
"O
poeta teve a consagração da popularidade. Não falo dessa que adquiriu em
Lisboa, assistindo a festas e improvisando na viola. Refiro-me a uma
popularidade mais vasta e mais justa. Quase todas as cantigas de Lereno correm
de boca em boca nas classes plebéias truncadas ou ampliadas. Formam um material
de que o povo se apoderou, revelando-o a seu sabor." (Silvio Romero)
Domingos Caldas Barbosa |
"Perfeitas ou não, essas quadrinhas
despretensiosas resistiriam ao tempo e à pancadaria dos eruditos. As cantigas
do mulato Caldas Barbosa possuem um embalo preguiçoso e dolente, que vem da sua
autêntica inspiração popular, como uma antecipação dos melhores momentos dos
nossos modinheiros e letristas de samba, como um Orestes Barbosa, um Sinhô, um
Noel Rosa, um Chico Buarque de Holanda.". (Francisco de Assis Barbosa)
“Um mulato que volta seu olhar para sua
cor e escreve sobre isso. Não é a toa que Manuel Bandeira cita-o como precursor
da poesia brasileira. Ele, um mulato, que foi chamado de orangotango por Bocage
e de macaco por outros. Foi ridicularizado e humilhado por ter ousado entrar
nos palácios, recitando e cantando o lundum, um ritmo de negros. Os intelectuais
da época zombavam dele. Ele era satirizado pelos outros escritores. Tudo isso
por assumir sua cor e ascendência.” (CAMARGO, 2000).
“Como tocasse bem viola e cantasse agradavelmente
modinhas e lunduns, tornou-se o socio almejado e applaudido das melhores companhias”
(Macedo, 1876)
"Dizem
que a modinha morreu. Ela não morrerá porque já não é mais uma canção, mas um
estado de alma. Ela está na própria essência emotiva da nacionalidade." (Mozart
de Araújo)
BIBLIOGRAFIA:
-CD Capela Basílica – Modinhas
-dicionariompb.com.br/lundu/dados-artisticos
-A viola e a música de Domingos Caldas
Barbosa: uma investigação bibliográfica; Marcia Taborda; Departamento de
Música/UFSJ
-Dicionário
Biográfico Caravelas; Núcleo de Estudos da Historia da Música Luso-Brasileira
-BARBOSA, v. 2, 1944, p. 27; Pertencimento
étnico e transgressão em Viola de Lereno, de Domingos Caldas Barbosa; Eduarda
Rodrigues Costa / LITERAFRO - www.letras.ufmg.br/literafro
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