Espaço para compartilhar conhecimento sobre os principais poetas do período colonial brasileiro. Orientador: Prof. Marcelo dos Santos
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Cartas Chilenas - Apresentação
As Cartas Chilenas, do gênero
satírico, circularam manuscritas e anônimas em Vila Rica antes da Inconfidência
Mineira, suscitando dúvidas sobre sua autoria durante mais de um século.
A análise estilística do poema favorece a autoria de Gonzaga, porém Antonio Candido não descarta a hipótese de colaboração de Cláudio Manuel da Costa. Provavelmente, Gonzaga escreveu esse poema com o intuito de satirizar seu desafeto político, o Governador Luís da Cunha Meneses.
A análise estilística do poema favorece a autoria de Gonzaga, porém Antonio Candido não descarta a hipótese de colaboração de Cláudio Manuel da Costa. Provavelmente, Gonzaga escreveu esse poema com o intuito de satirizar seu desafeto político, o Governador Luís da Cunha Meneses.
Contam-se treze cartas, em tom
sarcástico, que relatam e criticam as façanhas do Fanfarrão Minésio (Cunha Meneses)
em seu governo de violência, corrupção e autoritarismo, supostamente na capitania do Chile,
país atribuído às narrativas das cartas (sendo, na verdade, a capitania de Minas Gerais).
Na primeira carta, Critilo (Gonzaga) remete a Doroteu (Manuel da Costa) a posse de
Fanfarrão Minésio.
Pois
se queres ouvir notícias velhas
50
-- Dispersas por imensos alfarrábios,
Escuta
a história de um moderno chefe,
Que
acaba de reger a nossa Chile,
Ilustre
imitador a Sancho Pança.
E
quem dissera, amigo, que podia
55
-- Gerar segundo Sancho a nossa Espanha!
Na segunda carta, Critilo fala
a Doroteu sobre o fingimento de Fanfarrão no início de seu governo para ganhar
a confiança do povo.
Apenas,
Doroteu, o nosso chefe
65
-- As rédeas manejou, do seu governo,
Fingir-nos
intentou que tinha uma alma
Amante
da virtude. Assim foi Nero.
Governou
aos romanos pelas regras
Da
formosa justiça, porém logo
70
-- Trocou o cetro de ouro em mão de ferro.
Manda,
pois, aos ministros lhe dêem listas
De
quantos presos as cadeias guardam,
Faz
a muitos soltar e aos mais alenta
De
vivas, bem fundadas esperanças.
75
-- Estranha ao subalterno, que se arroga
O
poder castigar ao delinqüente
Com
troncos e galés; enfim ordena
Que
aos presos, que em três dias não tiverem
Assentos
declarados, se abram logo
80
-- Em nome dele, chefe, os seus assentos.
Aquele,
Doroteu, que não é santo,
Mas
quer fingir-se santo aos outros homens,
Pratica
muito mais, do que pratica
Quem
segue os sãos caminhos da verdade.
85
-- Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
Abre
os braços em cruz, a terra beija,
Entorta
o seu pescoço, fecha os olhos,
Faz
que chora, suspira, fere o peito,
E
executa outras muitas macaquices
90
-- Estando em parte onde o mundo as veja.
Assim
o nosso chefe, que procura
Mostrar-se
compassivo, não descansa
Com
estas poucas obras: passa a dar-nos
Da
sua compaixão maiores provas.
Na terceira carta, Critilo
relata as maldades que Fanfarrão fez por causa de uma cadeia que iniciou e a
tristeza do povo com os acontecimentos.
Que
triste, Doroteu, se pôs a tarde!
Agora,
Doroteu, ninguém passeia,
10
-- Todos em casa estão, e todos buscam
Divertir
a tristeza, que nos peitos
Infunde
a tarde, mais que a noite feia.
...
Pretende,
Doroteu, o nosso chefe
Erguer
uma cadeia majestosa,
Que
possa escurecer a velha fama
Da
torre de Babel e mais dos grandes,
70
-- Custosos edifícios que fizeram,
Para
sepulcros seus, os reis do Egito.
Na quinta e sexta cartas,
Critilo relata a chegada de Carlota Joaquina, o casamento com D. João VI e
críticas aos gastos absurdos com a corte portuguesa.
Trechos da quinta carta
30
-- Chegou à nossa Chile a doce nova
De
que real infante recebera,
Bem
digna de seu leito, casta esposa.
Reveste-se
o baxá de um gênio alegre
E,
para bem fartar os seus desejos,
35
– Quer que, a despesas do senado e povo,
Arda
em grandes festins a terra toda.
...
Chega
enfim o dia suspirado,
O
dia do festejo. Todos correm
Com
rostos de alegria ao santo templo;
Celebra
o velho bispo a grande missa;
185
-- Porém o sábio chefe não lhe assiste
Debaixo
do espaldar, ao lado esquerdo:
Para
a tribuna sobe e ali se assenta.
Uns
dizem, Doroteu, fugiu, prudente,
Por
não ver assentados os padrecos
190
-- Na capela maior, acima dele.
Trecho da sexta carta
65
-- Aqui nada se vê que seja pobre.
Recreia,
Doroteu, recreia a vista
O
vário dos matizes; cega os olhos
O
contínuo brilhar das finas pedras.
Na décima carta, Critilo relata as maiores desordens que
Fanfarrão fez em seu governo.
Assim
o nosso chefe não descansa
De
fazer, Doroteu, no seu governo,
Asneiras
sobre asneiras; entre as muitas,
Que
menos violentas nos parecem,
25
-- Pratica outras que excedem muito e muito
As
raias dos humanos desconcertos.
Perdoa,
minha Nise, que eu desista
Do
intento começado. Tu mil vezes
Nos
meus olhos já leste os meus afetos,
30
-- Não careces de os ler nos meus escritos.
Perdoa,
pois, que eu gaste as breves horas
A
contar as asneiras desumanas
Do
nosso Fanfarrão ao caro amigo.
E
tu, meu Doroteu, antes que leias
35
-- O que vou a contar-te, jurar deves
Pelos
olhos da tua amada esposa,
Por
seu louro cabelo, e pelo dia
Em
que viste, na sua alegre boca,
O
primeiro sorriso, que não hás de
40
-- Duvidar do que leres, bem que sejam
Desordens
que pareçam impossíveis.
A
Junta, Doroteu, a quem pertence
Evitar
contrabandos, prende, envia
À
sabia Relação do Continente
45
-- A trinta delinqüentes, para serem
Castigados
conforme os seus delitos.
Entende
o nosso chefe que esta Junta
Não
devia mandar aos malfeitores
Sem
sua autoridade, e dela toma
50
-- O mais estranho, bárbaro despique:
Manda
embargar aos presos na cadeia
Do
nosso Santiago, e manda ao pobre
Do
condutor meirinho que os sustente,
Assistindo
também aos que enfermarem
55
-- Com médicos, remédios e galinhas.
Acaba-se
o dinheiro que lhe deram
Para
fazer os gastos do caminho;
Referências bibliográficas
BOSI, Alfredo. História
concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1975.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos
decisivos. Belo Horizonte: Itatiaia Ltda, 2000.
SUTTANA, Renato. Tomás
Antônio Gonzaga: Duplo personagem. Rev. de Letras, n. 23 - Vol. 1/2,
2001. 1/2, 2001. Disponível em: http://www.revistadeletras.ufc.br/rl23Art04.pdf
O CARAMURU
O CARAMURU
Personagens
Diogo Álvares
Correia -
o Caramuru
Paraguaçu - filha do cacique Taparica
Gupeva e Sergipe - chefes indígenas
Moema - índia amante de Diogo.
Tema Central e Enredo:
Caramuru é o nome dado ao português Diogo
Álvares Correia que passa a viver entre os índios Tupinambás após sobreviver a
um naufrágio no litoral baiano. Responsável por ensinar as leis e as virtudes
aos "bárbaros" que aqui viviam, é considerado um herói "cultural".
Ganha o respeito dos índios ao disparar uma arma de fogo, estes assustados,
equiparam-no a Tupã e passam a respeitá-lo como uma entidade divina. Caramuru
se encanta com Paraguaçu, a bela índia de pele branca. Depois de instalado na
tribo, Diego percebe a possibilidade de difundir a fé cristã para os índios,
doutrinando-os após encontrar uma gruta semelhante a uma igreja.
Mais adiante, Diego ajuda a resgatar a
tripulação de um barco espanhol naufragado e vê a possibilidade de retornar à
Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação. Caramuru
escolhe partir com Paraguaçu, deixando para trás as índias que haviam se
apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que se atira ao mar em
direção ao navio na tentativa de alcançar o seu amado, protagonizando uma das
cenas mais marcantes de nossa literatura. Chegando à Europa, Paraguaçu é rebatizada
e passa a se chamar Catarina, onde recebe as honras da realeza lusitana.
.
Moema
(1866), por Victor Meireles
Estrutura
da obra:
Com o intuito de “compor uma Brasilíada”, Frei de Santa Rita Durão estrutura “Caramuru”
seguindo os passos de Camões. O modelo formado por dez cantos de versos
decassílabos dispostos em estrofes fixas e oitavas com esquema de rimas abababcc nos mostra a grande
influência da mitologia grega em sua estrutura. A obra pertence ao gênero épico
ou epopeia, do grego épos que significa “palavra, notícia ou discurso”, que é constituído por cinco partes: proposição,
invocação, dedicação, narração e epílogo. Com textos narrativos em prosa ou em versos, relatam acontecimentos heroicos, revoluções sociais, fundações de cidades, descobertas
de continentes, para tanto, menciona fatos brilhantes, determinados heróis e
realizações grandiosas. Não por acaso, o subtítulo da
obra, Poema épico do descobrimento da Bahia, que remonta
ao tempo em que os primeiros europeus chegaram ao Brasil e travaram contato com
os nativos.
Apreciação crítica
Canto I
Nas primeiras estrofes tem-se a introdução da
terra a ser cantada e do herói, propondo narrar seus feitos, sob a invocação do
auxílio de Deus e pedindo atenção para o Brasil, principalmente a seus
habitantes primitivos, dignos e capazes de serem integrados à civilização
cristã. Se isso for feito, prevê Portugal renascendo no Brasil.
I
De um varão em mil casos
agitado,
Que as praias discorrendo
do Ocidente,
Descobriu o Recôncavo
afamado
Da capital brasílica
potente:
Do Filho do Trovão
denominado,
Que o peito domar soube à
fera gente;
O valor cantarei na
adversa sorte,
Pois só conheço herói quem
nela é forte
II
Nele vereis Nações
desconhecidas,
Que em meio dos Sertões a
Fé não doma;
E que puderam ser-vos
convertidas
Maior Império, que houve
em Grécia, ou Roma:
Gentes vereis, e Terras
escondidas,
Onde se um raio da verdade
assoma,
Amansando-as, tereis na
turba imensa
Outro Reino maior que a
Europa extensa
A partir da nona estrofe o poeta traz a
narração no naufrágio de Diogo Álvares Correia, do qual apenas este e mais sete
companheiros sobrevivem. Descreve o contato português com os nativos, seus
receios diante das criaturas antropofágicas e despudoradas.
XIII
Sete somente do batel
perdido
Vêm à praia cruel, lutando
a nado;
Oferece-lhes um socorro
fementido
Bárbara multidão, que
acode ao brado:
E ao ver na praia o
Benfeitor fingido,
Rende-lhe as mãos o
náufrago enganado:
Tristes! que a ver algum,
qual fim o espera
Com quanta sede a morte
não bebera!
O índio como o outro, objeto de colonização e catequese, perde no Caramuru toda a
autenticidade étnica e regride ao zero do espanto enquanto antropofágico e da
edificação religiosa.
XVII
Correm depois de crê-lo ao
pasto horrendo;
E retalhando o corpo em
mil pedaços,
Vai cada um famélico
trazendo,
Qual um pé, qual a mão,
qual outro os braços:
Outros da crua carne iam
comendo;
Tanto na infame gula eram
devassos:
Tais há, que as assam nos
ardentes fossos,
Alguns torrando estão na
chama os ossos.
XVIII
Que horror da Humanidade!
ver tragada
Da própria espécie a carne
já corrupta!
Quanto não deve a Europa
abençoada
A Fé do Redentor, que
humilde escuta?
Não era aquela infâmia
praticada
Só dessa gente miseranda,
e bruta;
Roma, e Cartago o sabe no
noturno
Horrível sacrifício de
Saturno.
Um dia, excetuando-se Diogo, que ainda estava
enfermo e fraco, os outros seis são encaminhados para os fossos em brasa.
Todavia , quando iam matar os náufragos, a tribo do Tupinambá Gupeva é
ferozmente atacada por Sergipe. Após sangrenta luta, muitos morrem ou fogem;
outros se rendem ao vencedor que liberta os pobres homens que desaparecem, no
meio da mata, sem deixar rastro.
Canto II
Enquanto a luta se desenvolve, Diogo, magro e enfermo para a gula dos
canibais, veste a armadura e, munido de fuzil e pólvora, sai para ajudar os
seis companheiros que serão comidos. Na fuga, muitos índios buscam esconderijo
na gruta, inclusive Gupeva que, ao se deparar com o lusitano, cai prostrado,
tremendo; os que o seguiam fazem o mesmo; todos acham que o demônio habita o fantasma-armadura.
VIII
Disse; e entrando na sólita caverna,
Cobre de ferro a valerosa fronte;
Um peito d’aço de firmeza eterna,
E o escudo, onde a frecha se desponte.
Dispõe de modo, e em forma tal governa,
Que nada teme já, que em campo o afronte:
Nas mãos de ferro tinha uma alabarda,
A espada à cinta, aos ombros a espingarda.
IX
Saía assim da gruta, quando o monte
Coberto vê da bárbara caterva;
E no que infere da turbada fronte,
Sinais de fuga, e de derrota observa:
A algum obriga o medo, a que trasmonte;
Outros se escondem pelo mato, ou erva;
Muitos fugindo vêm com medo à morte,
Crendo achar na caverna um lugar forte.
Álvares Correia, que já conhecia um pouco a língua dos índios, espera
amansá-los com horror e arte. Convida Gupeva a tocar a armadura e o capacete.
Observa, amigavelmente, que tudo aquilo o protege, afastando o inimigo, desde
que não se coma carne humana. Ainda aterrorizado, o chefe indígena segue-o para
dentro da gruta, onde Diogo acende a candeia, levando-o a crer que o náufrago
tem poder nas mãos. Sob a luz, vê, sem interesse, tudo que o branco retirara da
nau. Aqui, o poeta, louva a ausência de cobiça dessa gente. Entre os objetos
guardados pelos náufragos, Gupeva encanta-se com a beleza da virgem em uma
gravura.Tão bela assim não seria a esposa de Tupã? Ou a mãe de Tupã? Nesse
momento, encantado pela intuição do bárbaro, Diogo o catequiza, ganhando-lhe,
assim a dedicação.
XXVI
Acesa luz na lôbrega caverna,
Vê-se o que Diogo ali da nau levara;
Roupas, armas, e, em parte mais interna,
A pólvora em barris, que transportara,
Tudo vão vendo à luz de uma lanterna,
Sem que o apeteça a gente nada avara,
Ouro, e prata, que a inveja não lhe atiça:
Nação feliz! que ignora o que é cobiça.
XXVII
Mas entre objetos vários a que atende,
Nota Gupeva extático a Pintura,
Que num precioso quadro, que ali pende,
Representava a Mãe da formosura:
Se seja coisa viva, não entende;
Mas suspeitava bem pela figura,
Digna a pessoa, de que a Imagem era,
De ser mãe de Tupã, se ele a tivera.
XXVIII
Esta (pergunta o Bárbaro) tão bela,
Tão linda face, acaso representa
Alguma formosíssima Donzela,
Que esposa o grão-Tupá fazer intenta?
Ou por ventura que nascesse dela,
Esse, que sobre os Céus no Sol se assenta?
Quem pode geração saber tão alta?
Mas se há Mãe, que o gerasse, esta é sem falta.
Saindo da gruta, o índio, agora manso e diferente, fala a seu povo
Tupinambá, ao redor da gruta. Conta-lhes sobre o feito do emboaba, Diogo, e que
Tupã o mandara para protegê-los. Para banquetear o amigo, saem para caçar.
Durante o trajeto, Álvares Correia usa a espingarda, aterrorizando a todos que
exclamam e gritam: Tupã Caramuru! Desde esse dia, o herói passa a ser o
respeitado Caramuru - Filho do Trovão. Querendo terror e não culto, Diogo
afirma-lhes que, como eles, é filho de Tupã e a este, também, se humilha. Mas
que como filho do trovão, (dispara outro tiro) queimará aquele que negar
obediência ao grande Gupeva.
XLI
Mais arma não levou, que uma espingarda;
E posto ao lado de Gupeva amigo,
Pronto a todo o acidente, e posto em guarda,
Traz na cautela o escudo ao seu perigo.
Em tanto a destra gente a caça aguarda,
E algum se afouta a penetrar no abrigo,
Onde esconde a Pantera os seus cachorros,
Outro a segue por brenhas, e por morros.
...
XLIII
Não era assim nas aves fugitivas,
Que umas frechava no ar, e outras em laços
Com arte o Caçador tomava vivas:
Uma porém nos líquidos espaços
Faz com a pluma as festas pouco ativas,
Deixando à lisa pena os golpes laços.
Toma-a de mira Diogo, e o ponto aguarda:
Dá-lhe um tiro, e derriba-a co’a espingarda.
...
L
Tal pensamento então n’alma volvia
O grão-Caramuru, vendo prostrada
A rude multidão, que Deus o cria,
E que espera desta arte achar domada:
Política infeliz da Idolatria,
Donde a antiga cegueira foi causada;
Mas Diogo, que abomina o feio insulto,
Quando aumenta o terror, recusa o culto.
LI
De Tupá sou (lhe disse) Onipotente
Humilde escravo, e como vós me humilho;
Mas do horrendo trovão, que arrojo ardente,
Este raio vos mostra, que eu sou filho.
(Disse, e outra vez dispara em continente)
Do meio do relâmpago, em que brilho,
Abrasarei qualquer, que ainda se atreva
A negar a obediência ao grão-Gupeva.
Nas estrofes seguintes, o poeta descreve os costumes da selva. Caramuru
instala-se na aldeia, onde imensas cabanas abrigam muitas famílias, que vivem
em harmonia. Muitos índios querem vê-lo, tocá-lo. Outros, em sinal de
hospitalidade, despem-no e colocam-no sobre a rede, deixando-o tranquilo.
Paraguaçu é uma índia de pele branca e traços finos e suaves. Apesar de não
amar Gupeva, está na tribo por ter-lhe sido prometida. Como sabe a língua
portuguesa, Diogo quer vê-la. Após o encontro os dois estão apaixonados.
LXX
Mas eis que um grande número o rodeia
De emplumados feiíssimos Salvagens:
Ouve-se a casa de clamores cheia;
Costume antigo seu nas hospedagens.
Qualquer chegar-se a Diogo ainda receia,
Por ter visto as horríficas passagens;
Mas mair ma apadu de longe explicam,
E bem-vindo o estrangeiro significam.
LXXI
Por costumado obséquio os mais luzidos
Tomam Diogo nos braços; e no peito
A frente lhe apertavam comedidos:
Sinal entr’eles do hospital respeito.
Tiram-lhe em pressa as roupas, e vestidos;
E pondo-o sobre a rede, como em leito,
Sem mais dizer-lhe nada, e sem ouvi-lo,
Tudo se afasta, e deixam-no tranqüilo.
LXXII
Com maior cerimônia outra visita
Festiva celebrava o seu cortejo;
Femínea turba, que o costume incita
A oferecer-se honesta ao seu desejo;
Senta-se sobre os pés, e felicita,
Cobrindo o rosto a mão, como por pejo;
Vestidas vêm de folhas tão brilhantes,
Que o que falta ao valor, têm de galantes.
...
LXXXIV
No raio deste heróico pensamento
Em tanto Diogo refletiu consigo,
Ser para a língua um cômodo instrumento
Do Céu mandado na donzela amigo:
E por ser necessário ao Santo intento,
Estuda no remédio do perigo,
Que pode ser? sou fraco: ela é formosa...
Eu livre... ela donzela... será esposa.
LXXXV
Bela (lhe disse então) gentil Menina,
(Tornando a si do pasmo, em que estivera)
Sorte humana não é, mas é Divina,
Ver-me a
mim; ver-te a ti na nova esfera:
Ela a frase, em que falo, aqui te ensina;
Ela, se não me engana o que a alma espera,
Um fogo em nós acende, que de resto
Eterno haja de arder, se arder honesto.
LXXXVI
Desde hoje se a meus olhos corresponde
O meigo olhar das lúcidas pupilas;
Se amor é... porque amor quem é que o esconde,
Se por ele essas lágrimas destilas:
Com que chamas meu peito te responde,
Com mão de Esposa poderás senti-las;
Disse; e estendendo a mão, ofereceu-lha;
Ela que nada diz, sorriu-se, e deu-lha.
Canto III
À noite, Gupeva e Diogo conversam sob a tradução feita por Paraguaçu. O
lusitano fica pasmo ao saber que, para o chefe da tribo, existe um princípio
eterno; há alguém, Tupã, ser possante que rege o mundo; aquele que vence o
nada, criando o universo. O espírito de Deus, de alguma maneira, comunica-se
com essa gente. Gupeva eloqüente fala acerca da concepção dos selvagens sobre o
tempo, o Céu, o Inferno. Abordam a lenda da pregação de S. Tomé em terras
americanas. Concluindo a conversa, o cacique diz que estão para ser atacados
pelos inimigos; Caramuru aconselha-o a ter calma. De repente, chegam os ferozes
índios Caetés que, ao primeiro estrondo do mosquete, batem em retirada,
correndo, caindo; achando, enfim, que o céu todo lhes cai em cima.
II
Só
com Gupeva a Dama, e com Diogo
Gostosa
aos dois de intérprete servia;
E
perguntado sobre o Sacro fogo,
A
qual fim se inventara? a que servia?
Deu-lhe
simples razão Gupeva logo:
Supre
de noite (disse) a luz do dia;
E
como Tupá ao Mundo a luz acende,
Tanto fazer-se aos hóspedes empreende.
...
VI
A chuva, a neve, o vento, a tempestade
Quem a rege? a quem segue? ou quem a move?
Quem nos derrama a bela claridade?
Quem tantas trevas sobre o Mundo chove?
E este espírito amante da verdade,
Inimigo do mal, que o bem promove,
Cousa tão grande, como fora obrada,
Se não lhe dera o ser, quem vence o nada?
VII
Quem seja este grande Ente, e qual seu nome,
(Feliz quem saber pode) eu cego o ignoro;
E sem que a empresa de sabê-lo tome,
Sei que é quem tudo faz, e humilde o adoro:
Nem duvido que os Céus, e Terra dome,
Quando nas nuvens com terror o exploro,
Deixando o mortal peito em vil desmaio,
Ameaçar no trovão, punir no raio.
Canto IV
O temido invasor noturno é o Caeté, Jararaca,
que ama Paraguaçu perdidamente. Ao saber que ela esta destinada a Gupeva,
declara guerra. Após o ataque estrondoso do Filho do Trovão, Jararaca convoca
outras nações indígenas com as quais tinha aliança: Ovecates, Petiguares,
Carijós, Agirapirangas, Itatis. Conta-lhes que Gupeva prostrou-se aos pés de um
emboaba pelo pouco fogo que acendera, oferecendo-lhe até a própria noiva. O
cacique alerta-os que, se todos agirem dessa forma, correm o risco de serem
desterrados e escravizados em sua própria terra, enchendo de emboabas a Bahia.
Apela para a coragem dos nativos, dizendo que apesar do raio do Caramuru ser
verdadeiro, ele nada teme, porque não vem de Deus. Não há forças fabricadas que
a eles destruam. A guerra tem início e Paraguaçu também luta heroicamente e, num
momento de perigo, é salva pelo amado lusitano.
I
Era o invasor noturno um Chefe errante,
Terror do Sertão vasto, e da marinha,
Príncipe dos Caetés, Nação possante,
Que do grão-Jararaca o nome tinha:
Este de Paraguaçu perdido amante,
Com ciúmes da donzela, ardendo vinha:
Ímpeto que à razão, batendo as asas,
Apaga o claro lume, e acende as brasas.
...
LXXXIII
Enquanto entrava o bárbaro, e na luta
Um, e outro se abraça; o forte Diogo
Que o caso da sua bela infausto escuta,
Toma a espingarda, e parte em fúria logo:
Qual pólvora encerrada dentro à gruta,
Quando na oculta mina se deu fogo,
Arroja penha, e monte, e o que tem diante;
Tal se envia em furor o aflito amante.
LXXXIV
Tinha afogado Pessicava em tanto
A Amazona infeliz, e a mão lançava
Já de Paraguaçu, que no quebranto
Apenas levemente respirava:
E eis que inventando Diogo um novo espanto,
Traz um tambor, que horrísono soava;
E logo que o arcabuz com bala atira,
Cai Pessicava, e morde o chão com ira.
LXXXV
Mais não espera a tímida manada,
Ouvindo o estrondo, e os hórridos efeitos:
Quem parte logo em fúria declarada;
E quem lhe rende humilde os seus respeitos:
Paraguaçu porém desassombrada,
Sendo os contrários com terror desfeitos,
Acordou num suspiro, e solta viu-se;
E conhecendo Diogo, olhou-o, e riu-se.
Canto V
Depois da batalha, os amantes discorrem sobre
o mal que habita o ser humano e qual a razão de Deus para permiti-lo. Em
seguida, em Itaparica, o herói faz com que todos os índios se submetam a ele,
destruindo canoas com as quais Jararaca pretendia liquidá-lo.
VI
Quantos criar pudera que o servissem,
Deixando de criar quem o agravasse;
Onde todos a vê-lo ao Céu subissem,
E as obras que produz todas salvasse?
Nossos pais se dos filhos tal previssem,
Quanto fora cruel quem os gerasse?
E creremos da excelsa grã-Bondade
Que ceda a nossos Pais na humanidade?
VII
Segredos são (diz Diogo) da inescrutável
Majestade de Deus: que saberemos
Do seu modo de obrar sempre inefável,
Se o que somos, e obramos não sabemos?
Faltando-nos razão clara, e provável
Nos conselhos de Deus, que ocultos vemos,
É bem que toda a dúvida se acabe,
Porque ele pode mais, do que o Homem sabe.
...
XLV
Confusas entre si vão flutuando
As canoas, que a Gente não regia;
E uma vai sobr’outras embarrando
Na desordem, que todas confundia:
As três incendiárias arrojando,
Um Dilúvio de fogo n’água ardia,
Com tal fumaça nas ardentes fráguas,
Que cobrindo-se o ar, fervem as águas.
XLVI
Qual, se na Selva densa o fogo ateia,
Em colunas de fumo voa a chama,
E a lavareda, que pelo ar ondeia,
Traspassando se vai de rama em rama:
Tal na Bahia de canoas cheia
Um Dilúvio de fogo se derrama;
E o bárbaro de horror, de espanto, e mágoa
Foge à morte do fogo, e escolhe a d’água.
Canto VI
O amor de Diogo a Paraguaçu é demonstrado
quando este rejeita a oferta feita pelos chefes indígenas que lhe são
oferecidas, aceitando, todavia o parentesco.
VI
Paraguaçu porém com fé de
Esposo
Parecia estimar
distintamente,
Mostrando-lhe no afeto
carinhoso
A sincera afeição que
n’alma sente:
Amava nela o peito
valeroso,
E o gênio dócil, com que à
fé consente;
Amor que ocasionou, como é
costume,
Em algumas inveja, e
noutras ciúme.
O momento ritualístico da conversão de Paraguaçu
embora só venha a se concretizar na França, tem seu início simbólico ainda no
Brasil, com a morte de Moema, que por vezes parece simbolizar a parte selvagem
de Paraguaçu. Moema segue, a nado, a embarcação que leva Diogo e Paraguaçu e agarrada
ao leme, brada todo seu amor não correspondido ao esquivo e cruel Caramuru, até
o limite de suas forças.
XXXVI
É fama então que a
multidão formosa
Das Damas, que Diogo
pretendiam,
Vendo avançar-se a nau na
via undosa,
E que a esperança de o
alcançar perdiam:
Entre as ondas com ânsia
furiosa
Nadando o Esposo pelo mar
seguiam,
E nem tanta água que
flutua vaga
O ardor que o peito tem,
banhando apaga.
XXXVII
Copiosa multidão da nau
Francesa
Corre a ver o espetáculo
assombrada;
E ignorando a ocasião da
estranha empresa,
Pasma da turba feminil,
que nada:
Uma, que às mais precede
em gentileza,
Não vinha menos bela, do
que irada:
Era Moema, que de inveja
geme,
E já vizinha à nau se
apega ao leme
XXXVIII
Bárbaro (a bela diz)
Tigre, e não homem...
Porém o Tigre por cruel
que brame,
Acha forças amor, que
enfim o domem;
Só a ti não domou, por
mais que eu te ame:
Fúrias, raios, coriscos,
que o ar consomem,
Como não consumis aquele
infame?
Mas pagar tanto amor com
tédio, e asco...
Ah que o corisco és tu...
raio... penhasco
XLI
Enfim, tens coração de
ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre
estas ondas;
Nem o passado amor teu
peito incita
A um ai somente, com que
aos meus respondas:
Bárbaro, se esta fé teu
peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir) ah
não te escondas;
Dispara sobre mim teu
cruel raio...
E indo a dizer o mais, cai
num desmaio.
XLII
Perde o lume dos olhos,
pasma, e treme,
Pálida a cor, o aspecto
moribundo,
Com mão já sem vigor,
soltando o leme,
Entre as falsas escumas
desce ao fundo:
Mas na onda do mar, que
irado freme,
Tornando a aparecer desde
o profundo;
Ah Diogo cruel! disse com
mágoa,
E sem mais vista ser,
sorveu-se n’água.
Canto VII
Chegando à França, o casal é recebido na
corte e Paraguaçu é batizada e seu nome passa a ser Rainha Catarina de Médicis,
mulher de Henrique II, que lhe serve de madrinha.
XVIII
À roda o Real Clero, e
grão-Jerarca
Forma em meio à Capela a
Augusta linha;
Entre os Pares seguia o
bom Monarca,
E ao lado da Neófita a
Rainha.
Vê-se cópia de lumes nada
parca,
E a turba imensa, que das
guardas vinha;
E dando o nome a Augusta à
nobre Dama,
Põe-lhe o seu próprio, e
Catarina a chama.
XIX
Banhada a formosíssima
Donzela
No Santo Crisma, que os
Cristãos confirma,
Os Desposórios na Real
Capela
Com o valente Diogo amante
firma:
Catarina Álvares se nomeia
a bela,
De quem a glória no troféu
se afirma,
Com que a Bahia, que lhe
foi Senhora,
Noutro tempo, a confessa,
e fundadora.
Diogo descreve aos monarcas franceses tudo o
que sabe a respeito da flora e fauna brasileira, suas riquezas e importância
para a vida da colônia e dos indígenas.
XXVI
O mais rico, e importante
vegetável
É a doce cana, donde o
açúcar brota,
Em pouco às nossas canas
comparável;
Mas nas do milho proporção
se nota:
Com manobra expedita, e
praticável,
Espremido em moenda o suco
bota,
Que acaso a antiguidade
imaginava,
Quando o néctar, e
ambrosia celebrava.
XXVIII
É sustento comum, raiz
prezada,
Donde se extrai, com arte
útil farinha,
Que saudável ao corpo, ao
gosto agrada,
E por delícia dos Brasis
se tinha.
Depois que em bolandeiras
foi ralada,
No Tapiti se espreme, e se
convinha,
Fazem a puba então, e a
tapioca,
Que é todo o mimo, e flor
da mandioca.
...
XXX
Ervilhas, feijão, favas,
milho, e trigo,
Tudo a terra produz, se se
transplanta;
Fruta também, o pomo, a
pêra, o figo
Com bífera colheita, e em
cópia tanta:
Que mais que no País que o
dera antigo,
No Brasil frutifica
qualquer planta;
Assim nos deu a Pérsia, e
Líbia ardente,
Os que a nós
transplantamos de outra Gente.
Canto VIII
Na viagem de volta ao Brasil,
Catarina-Paraguaçu profetiza, prospectivamente, o futuro da nação, visão esta
que é recebida com admiração e confiança apor todos que a ouviam, como sendo
mensagem enviada por Deus a Paraguaçu.
XVII
Pasmado Diogo, e a
multidão, que a ouvia,
Calam todos no assombro de
admirados,
Nem já duvidam que visão
seria,
Em que ouvira os mistérios
revelados:
Quando ocultos segredos
Deus confia,
Não devem ser (diz Diogo)
propalados:
Mas se em parte, como
este, é manifesto,
Temerário não sou, se
inquiro o resto.
XVIII
Narra-nos, feliz alma, a
visão bela,
Quem sabe se por ti nos
manda aviso
A Providência, que ao
governo vela,
Do mortal nos seus fins
sempre indeciso:
Não nos cales em tanto o
que revela
Por nosso lume, o excelso
Paraíso,
E a nossos rogos com
memória pronta,
Dizendo quanto viste, tudo
conta.
O grandioso papel da religião na conquista do
território, na expansão da fé católica e da cristandade é mais uma vez
propagado, não se isolando da empreitada das navegações.
LXXVI
Nem mais a espada, e bomba
pavorosa
Se ouvirá na Marinha, e
Sertão vasto,
A voz só do Evangelho
poderosa,
Simples, sem artifício,
indústria, ou fasto:
A semífera Gente viciosa
No jugo conterá de um
temor casto;
E às mãos dos seus
Apóstolos se avista,
Com as armas da Cruz feita
a conquista.
Canto XIX
Prosseguindo em seu vaticínio,
Catarina-Paraguaçu descreve a luta contra os holandeses que termina com a
restauração de Pernambuco.
LXIII
Horroriza-se Holanda,
pasma Europa,
Exalta Portugal, canta a
Bahia,
Vendo-se triunfar tão
pouca tropa
Da terrível potência, que
a invadia:
Nada de humano o
pensamento topa,
Que em tudo a mão de Deus
clara se via,
Pois sempre elege para os
seus portentos
Os mais fracos, e humildes
instrumentos.
...
LXXVII
Triunfou Portugal; mas
castigado,
Teve em tal permissão
severo ensino,
Que só se logrará feliz
reinado,
Honrando os Reis da terra
ao Rei Divino:
E que o Brasil aos Lusos
confiado,
Será, cumprindo os fins do
alto destino,
Instrumento talvez neste
Hemisfério,
De recobrar no Mundo o
antigo Império
Canto X
A ligação entre Diogo e Paraguaçu, em toda a
obra, revela a importância da religião no descobrimento do Brasil, exaltando o
trabalho da catequese que foi aplicado na colonização.
XXIV
Escolha faz nas Tabas
numerosas
Dos que acha no trabalho
mais ativos;
Mas guarda para empresas
belicosas
Os que em ferócia reconhece
altivos:
A todos com maneiras
amorosas
Propõe da Fé Cristã claros
motivos;
E a condição notando em
cada raça,
Uns doma com terror,
outros com graça
O trabalho dos missionários é aqui valorizado
e engrandecido, numa grande exaltação. A contribuição das missões para a
expansão da fé cristã no Brasil colônia é tida como um grande exemplo a ser
seguido pela sociedade.
LVI
Muitos destes ali, velando
pios,
Dentro às tocas das
árvores ocultos,
Sofrem riscos, trabalhos,
fomes, frios,
Sem recear os bárbaros
insultos:
Penetram matos, atravessam
rios,
Buscando nos terrenos mais
incultos
Com imensa fadiga, e pio
ganho
Esse perdido mísero
rebanho.
LVII
Mais de um verás pela
campanha vasta
Derramar pela Fé ditoso
sangue;
Quem morto às chamas o
Gentio arrasta,
Quem deixa a seta com o
tiro exangue:
Vê-los-ás discorrer de
casta em casta,
Onde o rude Pagão nas
trevas langue;
E ao Céu lucrando as
miseráveis almas,
Carregados subir de
ínclitas palmas.
A visão profética de Catarina-Paraguaçu acaba
se transformando na Virgem sobre a criação do universo. O retorno do casal é
cercado de pompa, desde a recepção pala caravela de Carlos V, que agradece a
Diogo o socorro aos náufragos espanhóis, até a cerimônia realizada na Casa da
Torre, que revela o casal revestido na realeza da nação espanhola.
XLII
Observou-a Diogo na cabana
Tratada dos Tupis com
reverência,
Estimando-a por cousa mais
que humana,
Que excedia dos seus a
inteligência:
Surpreendeu-se da Imagem
soberana
O Lusitano Herói: e à
competência
Com eles venerando a Mãe
Divina,
Chama a vê-la a piedosa
Catarina.
XLIII
Pôs-lhe os olhos a Dama; e
transportada:
Esta é (disse) é esta a
grã-Senhora,
Que vi no doce sonho
arrebatada,
Mais que o Sol pura, mais
gentil que a aurora:
Eis aqui! esta é a Imagem
venerada:
Este era aquele roubo:
entendo agora:
Oh minha grande sorte! Oh
imensa dita!
Isto me quis dizer a Mãe
bendita.
A penúltima estrofe canta a preservação da
liberdade do índio e a responsabilidade do reino para com a divulgação da
religião cristã entre eles.
LXXVI
Que o indígena seja ali
empregado,
E que à sombra das Leis
tranqüilo esteja;
Que viva em liberdade conservado,
Sem que oprimido dos
Colonos seja:
Que às expensas do Rei
seja educado
O Neófito, que abraça a
Santa Igreja;
E que na santa empresa ao
Missionário
Subministre subsídio o
Régio Erário.
O poema acaba com o decreto real que concede
à Diogo e Catarina, as honras da colônia lusitana.
LXXVII
Por fim publica do Monarca
reto,
Em favor de Diogo, e
Catarina,
Um Real honorífico
Decreto,
Que ao seu merecimento
honras destina:
E em recompensa do leal
afeto,
Com que a coroa a Dama lhe
confina,
Manda honrar na Colônia
Lusitana,
Diogo Álvares Correa de
Viana
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